sexta-feira, 10 de julho de 2009

O HOMEM É SEMENTE


O MEDIEVAL DO AQUI E DO AGORA
Roberto Boaventura da Silva Sá*

No decorrer da história, é difícil identificar momentos de tranquilidade entre os humanos. Guerras, desigualdades, violência... - tudo produzido por mãos bem visíveis - estão presentes desde idos tempos. Na busca de superar coisas desestabilizadoras do bem-(com)viver, cada época apresenta suas "armas" próprias. Grosso modo, tais armas materializam-se por meio de duas vertentes: ou pela supremacia da racionalidade ou pelos meandros das emoções/sensações.
Quando a racionalidade predomina sobre a dinâmica da vida humana - vista sempre na dimensão social, posto que o humano já nasce para o outro - estudiosos identificam tais momentos como marcados pela influência do antropocentrismo; ou seja, de visão mais humanizada do cotidiano. Já na ocorrência do oposto, é pelo viés das variações místicas que eventuais "respostas" são dadas; aí é a vigência do teocentrismo. Quando é assim, é a vontade de seres superiores (deuses) que prevalece.
A visão antropocêntrica tem coincidido com momentos de grandes avanços científicos, tecnológicos e culturais. Não sem motivos que na virada do século XV para o XVI, na vigência do Renascimento, o Ocidente vivenciou tal perspectiva. Dentre outros gênios, destaco Galileu que, embasado na visão de Copérnico, provou - não sem incomodar - que era o sol o centro do universo, e não a terra. Resultado: foi para os tribunais da Inquisição, por ter contrariado uma lógica que se supunha fosse eterna.
Mas por que estou dizendo isso tudo? Para refletir sobre o que tem predominado hoje. Antes, afirmo que viventes do aqui e do agora, erroneamente, veem-se superiores a quem viveu em épocas passadas. Como o tema de que trato é complexo demais para ser resolvido num espaço de artigo, apenas pontuarei questões que estão me incomodando. Sabendo de antemão que não agradarei a tantos, espero, pelo menos, que alguns compartilhem do mesmo desconforto de que me farto.
De chofre, afirmo: o teocentrismo - à lá Idade Média, ao lado de típica censura da contemporaneidade - tem-se avolumado. Vejamos a mídia. Dos canais abertos de TV, muitos são religiosos. Isso, antes de tudo, ajuda a comprometer a democratização das comunicações, pois reduz a pluralidade das já sofríveis programações das TVs. Nesses canais, as apresentações de cultos são recheadas de teatralizações bizarras: cadeirantes saem pulando; cegos, enxergando; surdos, escutando. Até gay deixa de ser gay! Só não vi ainda transformações à lá o finado Michael Jackson! Enfim, no império do charlatanismo eletrônico, há farsa pra quase todo tipo de "minoria". Quando vejo essas coisas, lamento não ter nascido um pé de ipê amarelo fincado num meio ressequido do cerrado em flor.
Da mídia, adentro, agora, nos corredores das universidades, onde deveriam imperar apenas altas reflexões e grandes debates, advindos do uso extremo da racionalidade. Contudo, a invasão religiosa tem sido constante. A continuar assim, em breve, as universidades poderão voltar a viver o clima dos mosteiros medievais, onde as universidades eram chanceladas pela igreja romana.
Hoje, por todos os cantos, espalham-se convites para encontros com Deus, Budas, Alas e Orixás. Dirão os "politicamente corretos" da pós-modernidade que isso reflete o direito de todos cultuarem o que quiserem. Posso até aceitar o argumento, mas indago: e quando são Coordenações de Cursos que chamam os fiéis para momentos de meditações, visando a encontrar o equilíbrio da existência? Isso também já vale? Aliás, vale dizer que há encontros desses que são realizados com velas espalhadas pelo chão e murmúrios que mais lembram os velhos mantras e outras coisas místicas mais. Os olhos dos participantes, ao invés de bem abertos para o real concreto, estão fechados, vendo apenas o que ordena a imaginação imersa na extrema subjetividade. Flutuações! Aliado a outros e graves problemas, temo que isso já seja mais um ingrediente do começo do fim das universidades.
* Dr. em Jornalismo/USP. É Prof. de Literatura da UFMT
rbventur26@yahoo.com.br


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Conforme diz Caio:

Não é simplesmente fazer algo errado... simplesmente que não se faça nada... e tudo já está errado... pois o se omitir, já indica quem somos... Somos semeadores sempre...
Nossa existência semeia o tempo todo, seja por palavras, pensamentos, sentimentos, atitudes, juízos, ações ou omissões.
Não há como existir e não semear!
Viver é semear... Quem pensa que pode driblar tal Princípio da Vida, que diz que todo existir produz fruto — bom ou mal; e cada um com suas conseqüências, boas ou más — está brincando.


Enfim! Temos por obrigação fazer algo, no minimo denunciar quem vive como picareta e a enganar quem ainda não criou consciência, para que o nosso protesto ainda que por muitos questionado seja reflexivo e despertem do sono tais consciências. Por isso pedi ao companheiro para poder postar aqui este texto. Não dá para calar diante de tanta podridão sendo semeada.

Sim! somos ARAUTOS. Miranda

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