segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

QUE PAÍS É ESSE?!


Artigo QUE PAÍS É ESSE?!



O Brasil teve o maior índice de crescimento mundial no século XX. No entanto, isso não se traduziu em redução das desigualdades sociais. Pelo contrário, elas aumentaram, transformando as grandes e as médias cidades brasileiras em áreas de grande instabilidade social.
Em dois anos, meio milhão de brasileiros deverão estar atrás das grades. Mantendo-se a tendência atual, seria preciso construir um novo presídio a cada 15 dias. Ao mesmo tempo, o Brasil possui a segunda maior frota de helicópteros particulares do mundo. Onde isso vai dar?
O crescimento da desigualdade social nas últimas décadas e a escandalosa concentração de renda no país compõem um cenário
de profunda violência institucional e não-institucional. O convívio da opulência e do luxo, de um lado, e da miséria, de outro, já fez acender o sinal vermelho há um bom tempo. Mas permanecemos, em boa medida, cegos, surdos e mudos.
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibcecrim), de São Paulo, em dois anos, meio milhão de brasileiros estarão atrás das grades. Hoje esse número é de aproximadamente 340 mil. De acordo com essa tendência, e conforme as normas das organizações internacionais de direitos humanos que sugerem um máximo de 500 pessoas por presídio, seria necessário construir um novo presídio a cada 15 dias.
Em seu livro Guerra civil: Estado e trauma, o jornalista Luís Mir escreve:
“O Estado brasileiro optou pela guerra civil, uma guerra dolorosa que empilha cadáveres com frieza nazista e fúria primitiva. As vítimas desta guerra são os pobres, que vivem em permanente estado de tensão e terror. As mortes desta guerra chegam a 150 mil por ano e elas custam, para o Estado, metade do que o país gasta com saúde”3.
O problema é que a quase totalidade dessas mortes não tem qualquer repercussão na mídia. Ninguém fica sabendo nada sobre elas. O nome das vítimas, o que faziam, o que suas famílias (aqueles que ainda tinham) sentiram e sofreram, quais foram os projetos de vida interrompidos; todas essas informações cairão para sempre no esquecimento; é como se todas essas histórias de vida nunca tivessem existido.
Se não for por outra razão, pode-se argumentar com esses sentimentos e posições a favor da pena de morte e do extermínio, do ponto de vista de sua eficácia. Seus defensores pregam tais práticas como solução para o problema da criminalidade. Mas estariam dispostos a assumir as conseqüências de tais posições? Estariam dispostos a apoiar a matança generalizada de todos os criminosos e presidiários do país? E de todos os futuros violadores da lei? Em que isso resultaria mesmo para a sociedade? A defesa dessas teses equivale a declarar uma guerra contra milhares de pessoas, a esmagadora maioria delas oriunda dos estratos mais pobres da população. Afinal de contas, quem superlota os diaripresídios brasileiros? E quem declararia essa guerra? O Estado brasileiro? Este Estado que tem uma dívida histórica para com seu povo e para com o que estabelece a Constituição do país?
“O Brasil possui o quinto maior território do mundo, a décima população e está entre os dez maiores PIBs do mundo. Só três países têm essas características:
Estados Unidos, China e Brasil”

Segundo Luseni Aquino, a desigualdade social está entre as maiores causas da violência entre jovens no Brasil, especialmente na faixa entre 15 e 24 anos. As pesquisadoras defendem que a violência cometida por jovens socialmente desfavorecidos não é causada apenas por necessidades materiais, mas também por sentimentos de injustiça e ausência de reconhecimento social. Esses fatores são potencializados pela convivência com pessoas e ambientes que estão no extremo oposto, o da inclusão social e do reconhecimento. Além da privação material, defendem as pesquisadoras, esses jovens enfrentam também o problema da exclusão social por não corresponderem aos padrões valorizados pela sociedade (pessoas brancas, bem vestidas, escolarizadas, trabalhadores com carteira assinada). Some-se a isso o bombardeio publicitário e midiático que estimula as pessoas a consumir e a desfrutar dos prazeres e comodidades da sociedade moderna.

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